Alma antiga lembra-se mais depressa de uma canção do Carlos Mendes do que dos The Gift e cá ficou o Verão a rodar na minha cabeça enquanto chovia a cântaros em cima de mim. E por dentro também. 

Tenho sido bastante resiliente em relação a este turbilhão que nos entrou porta adentro sem pedir licença: é pra ficar em casa? Fico! É pra sair com cuidado? Assim seja. É pra usar máscara? Vamos a isso. Mas agora a coisa piou mais fino quando começámos a ver o início do ano escolar mais perto. 

Choveram emails com regras da escola, planos de contingência do ATL, das atividades extra, etc, etc. Tudo bem na teoria, embora me tenha parecido estar num livro do Kafka. Leva máscara, põe máscara, não toca em nada, desinfeta as mãos, depois lava as mãos, depois vai pelo corredor x e volta pelo y sem passar por ninguém , preferencialmente. Tem um espaço para estar, não pode sair. Etc, etc... uma canseira. 

Pior que isso, uma tristeza. Hoje, à porta da escola em dia de apresentação, deu-me vontade de gritar: que se lixe o vírus! Deixem as crianças brincar, conviver, chatearem-se até. Faz parte! 

Imagino (ou não) o hercúleo trabalho que as instituições de educação têm tido. Sinto sincera compaixão pelos professores que se viram obrigados a imaginar e implementar esta coisa completamente insana que tira a liberdade de viver a todos. Sinto que vai ser um ano escolar cheio de ansiedade e tristeza. 

Não quero com isto dizer que devemos arriscar e ignorar toda a situação pandémica. Não. Se só pode funcionar assim, que seja. É melhor do que as crianças definharem sozinhas em casa, sem convívio social. Mas vai ser duro. Creio que pagaremos isto em falta de Saúde Mental num futuro mais ou menos próximo. 

E quero crer que o meu filho nunca lerá estas linhas porque o papel que os encarregados de educação têm que fazer é o de normalizar o "inormalizável" da melhor forma possível. 

Com o coração nas mãos, vamos a isso! 


O Verão
Carlos Mendes

 Como tudo o que acaba,

Como pedra rolando duma fraga,

Como fumo subindo no ar;

Assim estou quase indiferente,

Caminhando sem mais notar a gente,

Que por mim vejo passar!

O verão já terminou,

Uô, Uô, Uô

Foi um sonho que findou

Uô, Uô, Uô

Não interessa mais pensar!

Assim deixo esta tristeza

Vogando embalado na certeza,

Que o verão há-de voltar!

E o verão que sonho perto,

Vai trazer para mim eu sei de certo,

Aquilo que este agora veio tirar!


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