Liberdade triste

Hoje foi o meu primeiro dia de liberdade. Há dois meses que não guiava, que não estava sozinha no meu carro, a ouvir a música que eu escolhi e no volume que me apeteceu. Passei a ponte, vi um Tejo de águas agitadas e cinzentas, assim um bocadinho como eu.

Fiz alguns quilómetros para me despedir do meu tio Chico que sempre reconheci como um herói. Talvez pelas histórias que o meu pai me contou: um homem forte com um coração de manteiga, íntegro e generoso. Acho mesmo que, por ser o mais velho, foi (e será) sempre o seu herói. O seu "Buda", o seu "mano velho", o que tinha sempre uma graça, uma brincadeira ou uma partida para nos fazer. Tal como o avô "Laroca", com quem se parecia muito, especialmente, agora. Agora. Agora foi em Outubro.

Se em Outubro estávamos genuinamente felizes por nos vermos todos, hoje estamos quebrados. Pelas circunstâncias, pelas faltas, pelas memórias de outras partidas, pela antecipação das que virão. Tudo dói.

Hoje foi o meu primeiro dia de adulta. O dia em que percebi que a liberdade é maravilhosa, mas nos pode ser dada com contrapartidas cruéis.


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