Sporting Clube de Portugal


87/88. Primeira época que vivi em Alvalade.

Damas, Livramento, Marco Chagas, Carlos Lopes e tantos outros que conheci e/ou com quem convivi.

Treinos de segunda a sábado e o tempo que sobrava era para ver os colegas. Éramos amigos, conhecidos, família. O Sporting era mesmo uma grande família onde todos tinham o seu papel.
Os sócios-atletas não pagavam para ver as outras modalidades. Muitas vezes íamos “por dentro” desde a nave, mas também podíamos entrar pela 10 A, junto ao Posto Médico onde os profissionais tratavam todos os atletas de todos os escalões.

Entrar no estádio era sempre mágico, fosse por onde fosse. O lugar era, mais do que certo, junto à Juve Leo. Foi aí que me habituei a ir à bola ao domingo à tarde. A maior parte das vezes em pé, a cantar e a bater palmas pelo nosso Sporting.

Se me perguntarem quem era o presidente nessa altura, não sei dizer. Não me interessava. Mas sabia o nome de todos os atletas, do hóquei ao basquetebol, passando pelos futebolistas dos juvenis e juniores.

Sejam bons ou maus, são os atletas a alma do clube. Só eles nos dão vitórias que é o que se exige quando apoiamos uma instituição que vive de jogar. Jogar e ganhar.

O que sinto é que o desporto em geral, o futebol em particular e, ainda mais em particular, o Sporting se descaracterizou por completo. De repente, as jogadas que importam são as financeiras, os presidentes acham que são estrelas e que têm que protagonizar alguma coisa. Não. Presidentes, diretores, massagistas, não quero saber quem são.

Quero ver o João Matos, o Girão, o Plata ou o Ruesga e vibrar com a sua alegria a fazer o que sabem fazer melhor, a dar vitórias ao nosso clube. A darem-nos vitórias porque nós, sócios, simpatizantes, sofredores que aguentam ventos e tempestades verdadeiras e emocionais, merecemos vibrar, alegrarmo-nos e ganhar.

De 87/88 até hoje já vi muitos jogos, de tudo, em vários sítios. No último jogo de Carlos Carvalhal enquanto nosso treinador, estava grávida de 8 meses, num camarote a chorar baba e ranho, penso que por culpa das hormonas. Numa outra vez fui para a central. Foi mesmo só uma vez porque houve pessoas que a única coisa que fizeram durante todo o jogo foi dizer mal de todos os jogadores do Sporting em campo, mesmo quando marcámos alguns afirmaram: nem vou festejar. Vi uns quantos jogos na B, muito longe para mim.

Tive a sorte de ir à inauguração do pavilhão João Rocha e assistir a várias vitórias, a mais marcante, o ano passado, no hóquei que nos deu a liga europeia.

No estádio voltei à curva. Sou de lá. É lá que é a “minha bola”, onde cheiro a relva e oiço a respiração do jogador que vai marcar os cantos mesmo ali à minha frente (hoje em dia quase sempre Marcos Acuña). É para lá que gosto de levar o meu filho, para que ame tanto o Sporting como eu. Que cante, que grite, que esteja em pé e seja feliz. Que a paixão pelo clube não esmoreça, apesar de não ganharmos um campeonato desde a altura em que o Miguel e o André eram grandes em Portugal. Os desgraçados que foram fazer sala à espera que os jogadores regressassem do Porto. Essa foi outra noite inesquecível. Também não sei quem era o presidente, nem como estavam as contas do clube.
Nem quero saber. Estou bastante farta de gente desequilibrada que acha que é dona do Sporting.

Já sofri mais pelo Sporting do que alguma vez pensei. Mas resisto. Nunca em silêncio, sempre que for preciso, levantarei a minha voz contra o que considero errado. Como fiz ontem à porta de entrada do estádio onde não deixei que descalçassem o meu filho. E entrámos.

O meu desejo é voltar a não saber quem é o presidente do Sporting. Nem a direção. Nem falar de contas, estatutos e relatórios. Só quero ver a bola. Em paz. Como dantes.

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