Tempo

Quando era miúda queria fazer tudo a correr para me despachar e ter mais tempo para brincar.

Esta pressa  perseguiu-me durante décadas e só muito recentemente me dei conta que, quando outras pessoas fazem coisas à pressa, isso irrita-me profundamente.

Executar um bom trabalho, bem pensado e editado enriquece o próprio trabalho e enriquece-nos a nós que temos que gastar algum tempo extra e descobrir recursos novos para o melhorar.

Revejo-me no que escrevo. No "antes" e no "depois" porque a minha própria atitude perante as tarefas mudou. Se dantes cumpria horários, hoje em dia cumpro objetivos: estratégicos da organização, mas também pessoais de rigor e melhoria contínua.

A pressa acabou porque o tempo passa mais depressa e acaba por haver uma necessidade de o desacelerar, mas também porque não há nada como ter a satisfação de "missão cumprida" seja num jantar familiar, como na entrega de um importante documento.

O sucesso não se compadece com pressas. Apesar da perfeição não existir, viver apressadamente limita-nos, acabamos por perder pormenores importantes que poderiam fazer toda a diferença.


Não Tenho Pressa

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


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